Carência de profissionais em TI é crítica

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Vi essa reportagem sobre profissionais de TI no Brasil muito boa!

Raro, caro e disputado, o profissional de tecnologia da informação é uma das dores de cabeça da administração da saúde no Brasil. Sem eles, hospitais, convênios e outras instituições do sistema de saúde enfrentam dificuldades para modernizar a gestão e reduzir os custos. Hoje faltam pelo menos 20 mil profissionais de TI na área, estima Renato Sabbatini, diretor de educação e capacitação profissional da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (Sbis).

"Se cada hospital precisasse de apenas um, o Brasil deveria ter pelo menos 7 mil profissionais com esse perfil", afirma. "Hoje não há nem 1.500". O quadro real, porém, é mais complexo. O diretor da Sbis baseou sua estimativa no mercado dos Estados Unidos, onde faltam 50 mil profissionais. A escassez é internacional. Nos EUA, só em agosto, foram criadas 15 mil vagas para profissionais com conhecimento de registro médico eletrônico, 31% mais que no mesmo mês de 2011, segundo a empresa Wanted Analytics.

Parte do problema decorre da baixa formação profissional especializada. Existem apenas dois cursos de graduação, o bacharelado em informática biomédica na Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto - com 50 a 60 formandos anuais - e o da Universidade Federal do Paraná, ainda no segundo ano da primeira turma.
O país tem também alguns programas de pós-graduação, mas a maioria do pessoal do setor vem se formando "na marra", diz Sabbatini. Para melhorar o quadro, a Sbis resolveu criar uma certificação profissional e avaliar a capacidade de quem já possua experiência sem formação específica. A primeira lista de avaliados sai em novembro, em Curitiba. A entidade pretende certificar 400 profissionais até 2015 e tem planos de criar outros cursos de formação, além de oferecer aulas a distância para professores de faculdades de medicina e enfermagem se familiarizarem com o tema.

O ideal para atender às necessidades do setor é o profissional híbrido, com conhecimento de saúde e de TI. De acordo com a Sbis, no mercado americano esse perfil chega a render salários iniciais de US$ 200 mil (cerca de R$ 400 mil) por ano. No caso de médicos, há ganhos extras, porque os grandes hospitais preferem que se mantenham em atividade clínica.
No Brasil esse profissional ainda não existe. Os que têm formação em saúde recebem salários de R$ 5 mil a R$ 7 mil em São Paulo e algumas cidades do Sul e Sudeste. No Nordeste, por exemplo, uma pesquisa informal da Sbis detectou salários de R$ 1.200. O profissional acaba escolhendo outras áreas da TI mais bem remuneradas.
Apontado como um dos mais bem servidos em matéria de TI, o Hospital Samaritano de São Paulo enfrenta a disputa por mão de obra com um conjunto de medidas que inclui salários de mercado, benefícios e perspectiva de carreira, revela Kleiton Simão, gerente executivo de TI da instituição. O Samaritano é um raro caso de hospital de ponta com todas as vagas da área de TI preenchidas.

Simão assumiu a função em 2005 com "o grande desafio de fazer o profissional de TI transformar-se em especialista no negócio". Para isso, empreendeu uma mudança no perfil excessivamente técnico dos profissionais buscando "transformar excelentes programadores em excelentes analistas de negócio, profissionais capazes de fazer a ponte entre TI e usuário".
A escassez é maior entre os profissionais que possam atuar como consultores de implantação, porque esses estão supervalorizados, comenta Marlon Oliveira, diretor de TI da Rede D"Or São Luiz de hospitais. "Temos necessidade de uma amplitude grande de profissionais, desde a microinformática até gerente de projetos, e precisamos de alguns especialistas que estão difíceis de encontrar."
A rede não tem enfrentado problemas para reter pessoal, mas para contratar. Recentemente, Oliveira convidou um profissional para uma vaga de R$ 7 mil de salário no Rio de Janeiro, mas o especialista optou por ganhar mais em uma empresa de outro ramo. "Em São Paulo a concorrência é maior e contratar é mais difícil e caro."
O Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo também possui três vagas de desenvolvedores em aberto na equipe de TI de 55 pessoas. Quem é qualificado está indisponível. Parte da demanda o hospital atende com a formação de pessoal interno de outras áreas e afinidade com informática - escriturários, atendentes de farmácia etc. -, mas as demandas mais específicas, que requerem alta especialização e que concorrem com outros setores acabam trazendo dificuldades, afirma Wladinei Avanzi, gerente de TI.

O hospital tem procurado agregar profissionais de perfil híbrido, inclusive médicos, porque considera a tendência inevitável. Desde 2010, o Beneficência vem implantando o prontuário eletrônico, que, entre outros ganhos, eliminou em 50% o consumo de papel.
"Os hospitais investiram muito em instalações e equipamentos de diagnósticos, principalmente por imagem, e agora precisam investir na informatização da parte clínica, porque isso ajuda a reduzir o custo", afirma Carlos Eduardo Nogueira, diretor geral para a América Latina da Intersystems, fabricante de softwares especializada em saúde. Na unidade brasileira da companhia, 60% da receita vêm da área de saúde, que absorve 70% dos empregados.
Segundo ele, o investimento em TI e em profissionais aptos é fundamental para reduzir os crescentes custos hospitalares e de gestão de saúde, mas a tecnologia da informação hoje é muito competitiva. Fica difícil manter o quadro de pessoal. A própria empresa tem vagas que não consegue preencher.

A tecnologia da informação ainda não é vista como diferencial estratégico e competitivo no setor e concorre com as outras tecnologias necessárias a um sistema de saúde, principalmente as diagnósticas, defende Libânia Alvarenga Paes, coordenadora do curso de especialização em Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde da Escola de Administração de Empresas da FGV de São Paulo. "Isso é um paradoxo: "nenhum profissional de saúde trabalha sem informação."

Fonte: Valor Econômico

 

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